O meu anjo

Desde que me lembro de mim sempre fui muito cética em relação ao que não via. O facto de se falar sobre certos temas deixavam- me aborrecida. Chegava a ser bruta e indelicada. Cresci no meio da comunidade católica, mas na qual nunca me enquadrei muito e pela qual sempre senti algumas duvidas. Tudo o resto, nunca fez sentido algum.
A vida para mim passava por ser justa, honesta e ambiciosa. Queria ter uma boa casa, um carro, boas roupas. Ansiava dar tudo aos meus filhos. Tudo aquilo que para eles fosse importante.
Tantas vezes me senti frustrada porque aquilo que tanto tinha almejando ainda não podia ser. Ainda não tinha o dinheiro. Tantas vezes as coisas mais apreciadas passavam pelo dinheiro. Cada um para seu lado, a lutar por uma vida mais confortável. Uma correria louca para chegar a todo o lado ao mesmo tempo. Mas algo inevitavelmente fica pra trás. Muitas vezes o corpo começa a dar parte fraca. Sou alguém a quem os afetos e o tempo dedicado ao outro são cruciais. As relações precisam de ser cultivadas, alimentadas e é preciso dedicação. Algures por aqui, perdi-me de mim mesma. A avalanche estava agora iminente.
Aqui a minha existência deu uma volta. Caramba, em que ponto é que agente começa a viver em função dos bens materiais e esquece os mais importantes? Dei por mim muitas vezes perdida e insatisfeita. Certo dia, tropecei em alguém por acaso (hoje tenho a certeza que não foi acaso algum) que entre muitas conversas banais, me disse que o facto de desapegar de certas situações me iriam tornar mais feliz, mais completa. Lembro me de pensar, então mas quem é que disse que não estou feliz? Esta agora! Então mas eu não sou? Por outra vez tive a oportunidade de a questionar se ela achava que eu não o era? E ela teve a lata de perguntar: mas tu és realmente feliz? O que é que te faz pensar que és? Fez se silêncio. Fuji com o rabo a seringa, mas aquelas questões sempre me ficaram a martelar nas ideias.
Realmente lá no fundo, apesar de ter tudo o que se supõe ser necessário para tal, sentia que me faltava algo… Os problemas foram surgindo na minha vida como que enchentes de água turva. Era um acumular de situações em que já nos era difícil manter a tona! Dei por mim num turbilhão de confusão…a minha vida estava de pernas para o ar. O caos estava instalado. Desde doença, acidentes, zangas, perdas. Enfim um comboio de acontecimentos onde cada carruagem trazia mais e mais sofrimento. Muitas vezes, achei que não iríamos conseguir levar o barco a bom Porto.
Recordo-me de uma conversa onde essa pessoa me perguntou se eu tinha consciência do simples facto de respirar. Recordo me dela me perguntar se eu não era grata por isso. Numa outra conversa, ela falou- me que, quando eu expandisse a minha visão da vida eu deixava de a ver pintada de Preto e cinza. Eu iria ver como ela tinha uma infinidade de tons. Eu iria olhar para o céu e ver um azul nunca antes visto… Assim como a relva teria um Verde mais vibrante… Lembro- me de pensar, então mas eu vou lá andar a ver o céu ou a erva…olha agora com tantos problemas quero lá saber da cor do céu ou da erva… Sempre a achei uma pessoa esnobe. Com aquele semblante sempre calmo. Podia estar a acabar o mundo que estava sempre sereno. Caramba.
O certo é, que no meio do caos que estava a minha vida, os meus olhos fugiam para o céu. E para a relva. E para as flores. De facto vinham me à cabeça algumas conversas e questões. As nossas conversas escassas cada vez me cativavam mais.
Consegui aos poucos fechar algumas gavetas. Consegui vir com a cabeça a tona. Mas por vezes sentia a tal necessidade de me encontrar. Queria mais qualquer coisa. Algo que não conseguia explicar. Lembro me de em conversa me dizer com toda a certeza que eu nunca estaria sozinha. Por mais duro que fosse eu teria sempre alguém ao meu lado. Por vezes questionava-me como é que ela tinha tanta certeza daquilo? Será que acreditava mesmo naquilo que dizia? Certo dia, em modo brincadeira, comentei com ela que o meu anjo da Guarda devia ter fugido de mim a sete pés. Disse que nem anjos nem guias queriam saber dos meus dramas e da minha loucura. Ela ficou muito séria. Olhou-me fundo nos olhos e disse com um tom seco e frio: não o voltes a dizer, eles ouvem e estão sempre contigo! Senti um arrepio enorme e olhei há minha volta. Para me certificar que eles não estavam lá à espreita com cara de poucos amigos. Mudamos de assunto, mas fiquei sempre com um sentimento de culpa por ter dito aquilo. Afinal de contas não queria ofender. No dia a seguir ela perguntou se já lhes tinha pedido desculpa? Eu respondi, em brincadeira, que tínhamos ido beber café e colocar tudo em pratos limpos. Dei uma grande gargalhada e arrependi me no momento… Aqueles enormes olhos fitaram-me e ela ficou em silêncio. Mudei de assunto. No final do nosso encontro ela disse que se eu realmente quisesse eu poderia sentir a sua presença. Bastava eu querer. Agora fui eu que a fitei. Fiquei curiosa. Ela disse que se quisesse só tinha que procurar um lugar calmo, fechar os olhos e pedir que eles viessem até mim. Com o coração. Com vontade. Ela garantiu que resultava. Que eu iria sentir a sua presença.
Dei por mim muitas vezes a refugiar-me no meu santuário a meditar, a olhar, a relaxar ou simplesmente a apreciar a paisagem à minha frente. Cada vez gostava mais daqueles momentos. Às vezes lembrava-me das nossas conversas e ria-me das minhas figuras ali sentada. Sozinha. Mas com uma sensação de companheirismo enorme. Um dia abri os olhos e disse em vós alta, ela tinha razão, eu não vejo, mas sinto. Não estou sozinha. Consigo sentir a presença deles.
Naquele dia, naquele lugar. Percebi que há pessoas que entram na nossa vida com uma missão. Saem quando ela está completa. Mas permanecem no nosso coração e na nossa alma para sempre.
O céu tem um azul mais cintilante, a relva um Verde mais vibrante e a minha vida tem tons que nunca pensei existirem. Estava demasiado ocupada a tentar ser feliz com os propósitos errados.
Se sou feliz? Sou. Se sou grata? Muito.
Acima de tudo percebi que não preciso de quase nada para viver bem. Por vezes deixamos passar a oportunidade de permitir que alguém entre na nossa vida com uma mensagem especial.Com o intuito de nos redirecionar pelo trilho certo. Aquele que nos propusemos no início de tudo.
Fiquem atentos, a todas as mensagens que recebem, às vezes os nossos anjos usam- se de alguém pra chegar a nós. Basta ouvir com o coração e estar atenta.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Numerologia-ano pessoal 5 em 2018

Amor ao PODER vá o PODER do AMOR💟

Como calcular o seu ano pessoal